A web é feita de texto
As pessoas amam vídeo. Compartilham fotos, fazem montagens. Colecionam badges em joguinhos. Mas continuam chegando a estes resultados graças ao texto. A busca é texto, a troca é texto, o link é hipertexto. O que as pessoas procuram é texto.
O formato do hipertexto, porém, conduz a uma leitura fragmentada dos textos. A possibilidade de saltar direto para outros links e escanear a tela procurando apenas o que vai lhe ajudar no momento, torna esta leitura inquieta. Essa fragmentação pode causar uma confusão entre as empresas e designers que trabalham em parceria para criar suas páginas.
O fato de a leitura ser inquieta e fragmentada não significa que as pessoas queiram apenas imagens nos sites em que acessam. O mais interessante é prover a informação desejada com o mínimo de obstáculos. Atenção: não estou falando aqui sobre menos cliques — quem nunca ouviu a conversa de que o usuário deve encontrar qualquer informação em até dois cliques da home? Mesmo que hoje as pessoas sequer acessem sua home — e sim sobre contexto. Se eu entro no site de um restaurante, eu quero ver o cardápio primeiro? Ou o endereço e horário de funcionamento? Estou no celular, com conexão 3g? Então, é sobre as tarefas que podem ser realizadas no seu site e quem irá realizá-las.
Portanto, é importantíssimo saber o que será mostrado de conteúdo antes de definir o design. E a definição do conteúdo inclui aí encontrar uma forma de, em meio à fragmentação, mostrar a coisa certa na hora certa ao usuário certo.
Só que é praticamente impossível, pelo conhecimento que temos de mercado, ter o conteúdo antes do design.
O texto não tá cabendo no layout
Em todos esses anos trabalhando nessa indústria vital, foram várias as vezes em que recebemos um layout com lorem ipsum e, separadamente, o conteúdo do cliente numa coleção de docs do Word. E mais vezes ainda as que recebíamos apenas o layout e passamos meses sem receber um texto sequer do cliente.
Aí está um dos maiores problemas do mercado brasileiro e que, aparentemente, só agora está recebendo a devida atenção, por conta da necessidade de conteúdo para as redes sociais. As empresas, percebendo que as maiores e as concorrentes participam do Facebook, precisaram contratar pessoas para desenvolver seu conteúdo e as primeiras dificuldades ocorreram aí. Não se tinha muita ideia de para quem estava sendo feito esse conteúdo e seguia-se o que estava fazendo sucesso.
Como o que é bom para um público — e por tabela, a quem atende a ele — não necessariamente é bom para outro público, os problemas das fan pages começaram a surgir, e, assim, quem faz conteúdo e seu planejamento a sério passou a ganhar destaque no mercado. Com algumas décadas de atraso.
Mas o abismo entre o layout e o conteúdo continua quando se pensa impresso se estamos precisando de aplicações responsivas. Ainda perde-se tempo demais corrigindo alinhamentos nas diversas telas. E quem vai acessar ainda acaba preterido por tamanhos de fontes, órfãs e viúvas.
Responsivo não é apertar e reordenar o layout da tela enorme numa coluna pequena. É preciso redefinir as prioridades. As pessoas que lêem no celular são as mesmas que lêem no desktop? Quem está no celular quer cumprir que tarefa no seu site? Seu tipo de serviço precisa ter um site completíssimo ou um site para baixar um aplicativo já basta?
Unidade mínima de conteúdo
Mobile-first é uma abordagem interessante trazida pelo design responsivo. Como o mobile, em teoria, não permite que informações excessivas sejam publicadas, há que se pensar no essencial. Qual é o conteúdo que precisa obrigatoriamente ser visto e o que é perfumaria.
Uma solução que foi encontrada para exibir conteúdo em dispositivos mobile e que acaba ajudando em layouts desktop são os cards. Sim, aqueles quadros de conteúdo como os do Pinterest. Apesar de toda tendência criar exemplos ruins e cópias baratas, o card é uma forma de definir um “átomo” de conteúdo. Uma unidade mínima que contém o que precisa ser visto num relance, pode ser ordenada e categorizada, e é compartilhável.
Imaginar como é o átomo de conteúdo é também uma forma de testar se as tarefas previstas para a sua aplicação são feitas ou se é necessário ajustá-las. Também é possível ver o que é prioritário e o que pode ser escondido (quem precisar, pode se aprofundar) dependendo do dispositivo em que o conteúdo é exibido.
Planejar o conteúdo antes – e botar a mão na massa
Quando dizemos que o conteúdo vem antes, na verdade é o planejamento que vem antes. Um website ou aplicativo não nasce pronto e permanece estático. Porém, sua estrutura, suas bases tem que ser feitas para durar e escalar.
Se tivéssemos que esperar para publicar um site ou mesmo planejá-lo somente no momento em que conseguirmos todo o conteúdo, este processo duraria anos. E a empresa perderia milhares de clientes para o concorrente que consegue se apresentar de uma forma mínima.
Definir o conteúdo antes significa mais é saber quem fará interações no site. Prever as tarefas que uma pessoa realizará no seu site. Prever inclusive que tipo de conteúdo o seu usuário poderá publicar em seu site. E garantir que ele esteja satisfeito com o resultado dessas ações.
Identificar o tipo e o formato de conteúdo que será publicado facilita e guia o trabalho de design. Se adotarmos o conteúdo mínimo no ínício do fluxo de trabalho, é possível utilizar a aplicação mais cedo e identificar o que funciona ou não, antes de meses de investimento. Mesmo blogs corporativos, uma aplicação muito comum, sem o planejamento prévio e nem uma forma de testar e aplicar alterações durante o desenvolvimento, acaba com aquela categoria com um post só.
Resumindo, colocar o planejamento do conteúdo no início do workflow, com foco no que o usuário precisa fazer na sua aplicação, torna as decisões de design mais rápidas, o desenvolvimento focado e traz um melhor retorno e organização das buscas.
É isso!
O conteúdo não existe? Tudo bem, é possível planejá-lo e testá-lo logo no início do processo. É melhor aparecer logo cedo, com passos curtos e rápidos. E ir corrigindo as rotas.
É preciso ter em mente que a web é feita de texto e é por texto que o seu público procura.